Por Segredos

Por segredos...

Que triste sonido da alma
Quando parte-se em metades
Quando escorre pelos dedos
Choram cordas por saudade

...do que foi, do que não é
Não se está mais onde mora
Não se sabe o que se quer
Se ficar...ou ir embora...

Sabes bem que estes teus medos
Que pelos versos tem plantado
São regados por segredos
e jamais serão passado...

Comunicando...

Estou no Twitter!

@camillazago

besitos

Um Sentinela de Campinas

Um anjo campeiro, abençoa o rodeio
Na imortalidade que o céu nos traz
A poeira na pista relembra a vida
De quem nesta terra tanta falta faz...






Quem sabe um dia tenha a alegria
De encontrar de novo aquele rapaz
No riso guri, segredos trazia
Que ia embora pra não voltar mais...






Era um chapéu de copa redonda
E um jeito pachola só seu de montar
Era um sentinela que fazia ronda
Por céus de Campinas, pra o vento levar...






Amigo irmão, tão sem paradeiro
Quantas vezes a me preocupar
Lhe pedia que fizesse planos
Que parasse as asas para repousar...






Quando um sentinela bolear o laço
Ficará o espaço pra ele passar
Guri, foi o jeito teu de nos ensinar
que unidos seremos fortes para superar...


Aos poetas e aos loucos...

Quem sabe das angústias desse mundo
Quem sabe ao certo o que é tudo perder
E conhece a vida sem nenhum pano de fundo
Que não o céu, caminhos por percorrer?






Um homem sabe, solitário na calçada
Sem pedir nada, só pensando seu viver
Sonhando que no fim da caminhada
Possa ao menos a si mesmo compreender...






E no silêncio onde encontra sua razão
Não ouve a maldade dos insultos
Loucos são os que gritam por ser surdos
Não do corpo, mas do próprio coração...






Ninguém sabe deste homem o que viveu
Nem dos motivos por que um dia ele parou
Quando largou das cordas do violão
E suas canções nem sequer assoviou...






Um único verso ele ainda quis compor
Últimas horas, em um tom triste de prece
Se morrem os sonhos, perdido é o amor
E sem amor, sem poemas se padece...






E a rudeza da lida cansou sua mão
Na tristeza da vida calou sua voz
um anjo que passa termina a oração:
Mãe dos poetas, por favor olha por nós.

*.*

Saudades dos meus amores!
Retornando das férias... que foram da mais profunda simplicidade e por isso profundamente revitalizantes... como só os dias no campo podem ser.
De alma enxaguada de verde e sereno, estou de volta...

"Eu canto porque o instante existe/ e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:/ sou poeta..." (Cecília Meireles, 1982)

A quem Reponta Estradas...

Homem que vive dos próprios caminhos
De antes, depois, por si e mais nada
Suas cargas pesadas carrega sozinho
Tropeiro sem bois, a repontar estradas

Só a força de muitos cavalos
Pode fazer seu mundo girar
Sem rodeios, campeiro, nem pealos
Esporeia motores pra acelerar...

Traz os olhos transbordando horizontes
E no peito calmo poeira de solidão
Vem fazendo o que seu pai fazia antes
Repontando estradas, dirigindo um caminhão...

Quem não tem parceiros pra lida
Conta segredos silentes à Deus
Ceva saudades por toda sua vida
Só tem partidas e a falta dos seus.

É gaúcho sim senhor, mesma maneira
De vencer uma guerra todo dia
Rotina pesa mais do que a madeira
Ainda assim, é a sina que queria...

Quem sabe mude ainda esse seu mundo
E traga junto a si no caminhão
A morena que o ama mais que tudo
E que há tempos lhe habita o coração...

Descompassos...

Numa conversa de pé de ouvido
Com o santo padre lá de cima
Contei o que tenho sentido
Em versos duros sem rima...
.
Porque será que planto flores
Nas pedras desta minha vida
São lanças os meus amores
E causam tantas feridas !
.
Porque não basta ao coração
O que sempre disse querer
Se pudesse tirar com a mão
O que descompassa o bater...
.
Pergunto, em reza, baixinho
O que fiz pra merecer?!
Uma estrada ... dois caminhos
Um amor e um bem querer...
.
Coração descompassado
Toda razão já perdeu
Por quem buscas, se és amado?
Tens um lugar todo teu...
.
Sem respostas, sem compasso
Linhas tortas, vida incerta
Pai do céu, o que eu faço
Se me encantou o poeta...


Pra um gaiteiro...



Chegou com força de temporal
Na madrugada mais comum
E eu soube, nada seria igual
Esqueceria de jeito nenhum...


Teu riso claro atrasou o dia...
No campo verde do teu olhar
Plantei sonhos que eu queria
Colher na hora de te ver voltar...


Trazes na alma de campeiro
A poesia destas primaveras
Nas mãos magias de gaiteiro
Melodia pra minhas esperas...


Somente a lua que espiava
O reencontro de emoções
Sabia o quanto eu sonhava
Ser a letra das tuas canções...


Um último acorde aconteceu
Com a manhã pra ser saudade
Quando o dia amanheceu
E eu voltei pra minha cidade...


Se a distância emudece o peito
Canto sempre a recordação
Do beijo doce e do teu jeito
Gaiteiro dono do meu coração.

23/11/2008
..hace tiempo!


...um ano depois da data dos versos é que os posto... que sejam homenagem ao homem que traz a alma na ponta dos dedos, que derrama os sentimentos lindos que tem no coração em melodias encharcadas de emoção... pelo dia 22 de novembro, dia do músico... pelos tantos dias que nos conhecemos e que me brindastes com tua amizade,   com o colo carinhoso das tuas palavras...

Gracias T.A. ... te dedico!

"TRACEI UM DESTINO..PRA SEGUIR CERTO! RASGUEI OS MAPAS...REDESENHEI O CAMINHO...MAS ME PERDI NUM LARGO, DISTANTE DESERTO...É OFENSA A UM AMOR OFERECER CARINHO"...

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Mercedes Sosa.... ouvi há pouco... "Todo Cambia"...

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
Pero no cambia mi amor
Por mas lejos que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente...

La Negra... a melhor... fará falta!

Proseando com o Irapuá...

“O Irapuá se recolhe devagar ao descanso, tardezinha
E nem o ventito que reponta a noite me leva à casa
Pé na porteira, olhos no céu, uma saudade só minha...
Se chega mais escura que a noite, mais fria que o vento.
A palavra já não voa fácil, pássaro que quebrou a asa...
Mas conto pra o campo largo e quieto que me viu nascer
Que ouve há vinte e mais anos essa alma silenciosa
Meu coração é como a lua e só um lado é triste e vazio
O outro é adoração a quem lhe acelera a mil o bater
Doce e arisco, pimenta, canela, calma, mistério e desafio”...

*O Tradicional “’tá tarde” de meu pai corta meus pensamentos
A frase que ouço desde criança como toque de recolher
Me faz sorrir devagar, mesmo sentindo nos olhos
as estrelas que as sombras revelam, tentando as prender ...
As lágrimas borram o brilho, e por meu rosto em descida
Vão fios de luz, saudade que de um peito cheio transbordou
Desfaz o riso, antes que chegue à boca a estrela desmanchada...
O toque de recolher se repete, menos rígido do que pode parecer
Pego o rumo de casa, o cuidado de deixar a cancela encostada
Com a certeza de que o tempo não deixaria tudo morrer
Amor não se termina, se transforma como campo que anoitece
Sabe que o sol não o encontrará tal e qual o deixou ao se pôr
Há morte na noite, brota sentimento em campo de coração sozinho...
Todos os dias nascem pra ser de saudades e de recomeço
Se o que se foi me fazia triste, meu presente é carinho
Meu sorriso é boa noite ao melhor conselheiro que conheço
Irapuá campo lindo adormecido, obrigada por me ouvir, sussurrei
E ao céu que assistia: Gracias meu Deus, me acompanhas também
Perdi tanto! Mas é incomparável o valor do tesouro que encontrei!


* Sei que vou dormir logo, como nunca na cidade...
pensamentos sem nenhum permisso se vem
Cismo, quem pode saber da minha verdade?
Que sabem todos, de campo, que não sei também?
faz parte das teorias de teclado sobre Identidade
E doutorzinho nenhum saberá estudando o que é que tem
Nessa noite misteriosa, que entoa canções sem idade
Tão densa que alimenta, tão lenta que sinto o mundo girar
Adormeço no leito do Irapuá, é campo e rio sem vaidade
Velam meu sono como irmãos...e protegem os meus segredos...

MOTIVOS DE MATE

Ergui bem alto meus olhos pra o céu
Senti bem longe os sonhos de retorno
Lavando a erva a versos no papel
Coração avesso que perdeu o entono.

Com as janelas de casa cerradas
Me entrego a um mate que me faz sonhar
Se ainda mateio pelas madrugadas
É por anseios de me reencontrar.

Se ainda sorvo esse meu mate santo
É porque ele acalma a dor sentida
Mate é alma que inspira o meu canto
Amargo verde que me adoça a vida.

Quisera eu nunca ter partido
Pra casa grande aqui na cidade
Sem identidade, sem nenhum sentido
Raiz sem terra, seca por saudade...

Devaneios de um fim de tarde...

...quando anoitece, especialmente quando está friozinho e o sol vai embora quase chorando, sinto uma tristezinha aguda. E sendo a hora tradicional do meu mate, deixo que os pensamentos soltem-se e me emocionem ainda mais que o costume...nada de lágrimas... enchente mesmo! ...hehe

...Hoje não pude deixar de lembrar de uma música do Lambari... "Na Boca da Noite Grande" ... meus fantasmas vieram... arrastando chilenas...

E quando o pensamentou assentou-se...me fez sorrir. Parou nele...
...Ele é uma lembrança doce, um presente excitante, um futuro vago... medo! E gratidão... intenso o suficiente pra me abalar, certo que não tenho raízes, mas meus braços estão firmes, balançaram, mas estão firmes... Incerto o suficiente para me fazer puxar as rédeas e reduzir o galope do meu coração romântico...

Quem não se perde ...não viaja às vezes... não sabe nunca o valor da casa...e de voltar pra o que é seu... mesmo que nem tenha ido... voltar...

Só a saudade, desde piá!

...Ao meu avô materno, Matias Osório Rios...

Costumava, já velho, sentar-se em frente à minha casa, no Irapuá - interior de Caçapava do Sul, e contar histórias da guerra, permeadas de cavalos e soldados. Sempre sonhei com as panelas de ouro que os padres, segundo ele, enterraram nas taperas encantadas que eram lindeiras ao nosso campo...
Magias de meu avô... que falava sozinho às vezes, porque poucos compreendiam que era por falta de atenção na realidade que fantasiava uma vida mais heróica......meu velho, tu fostes grande!





À Don Matias

Don Matias, homem velho
Olhos ternos, mas perdidos
Que bebiam horizontes
Sem nunca temer perigos

Foram poucos seus amigos
Que ao fim lhe acompanharam
Este homem dos antigos
De tempos que se findaram

Morreu em qualquer outono
Sem glórias que esperou
Nem destino foi seu dono
Por inteiro não o levou

Ficou um cavalo mouro
E as histórias que contou
De soldados, de tesouros
E de coisas que inventou

Também todos os relatos
Que nas tardes relembrou
Homem que sabia os fatos
Que a história não guardou

Em tudo que hoje faço
Te recordo, meu avô
Despediu-se num abraço
Por herança o que ensinou

Meu velho, tu fostes grande
Vivendo à tua maneira
Por onde quer que eu ande
Te dedico a vida inteira.

Só a saudade desde piá
Sempre volta, todo dia
Sei que tu só voltarás
Em lembrança e nostalgia.

............................................................

Ensina-me, Poeta...

..Este estava perdido... encontrei nos meus arquivos... Escrevi em 2006... ou 7.... nem lembro!




Meu coração nessa caixa de concreto
Sente falta de beber do Irapuá
De descansar na sombra do cinamomo
De reviver um dia que não vai voltar
Como tu podes, poeta, poeta querido
Fazer-se livre, bater asas desse jeito
Se também vives no mesmo meu mundo
Me ensina a arte de criar flores do cimento
Fazer poesias da dor, fazer do fútil profundo
Me ensina, meu poeta, enquanto há tempo
Porque estou a me sentir sem raízes
Canto teus versos para as paredes
Que eles me trazem um cheiro de campo
Um gosto de pitanga,de infância e cambuí
Que teus versos trazem minha terra pra mim
Flores, árvores, uma boiada inteira
Ao branco das paredes põe fim
Viajo, tendo a lembrança por companhia
Enquanto tu existires no Rio Grande, poeta
Será suportável viver na cidade
Porque tu és a voz da minha alma quieta
Para meu pranto é a consolação
Que me faz sorrir, sozinha em meu quarto
Como se em vez de ruídos urbanos e solidão
Estivesse cercada de céu, de amor e de mato...

...

Queee final de semana!
Finalzito da espera pelas Encantadas... e que tenho?
Um segredo...um silêncio... e um tanto de sonhos novos, que rendam versos!

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Quanta emoção senti nos teus versos
Que repito para mim mesma mil vezes encantada
Como se fossem da minha vida pedaços
Como se fosse minha alma musicada
Com a letra de quem eu não conhecia sequer
Que não sabia que tão perto já tinha estado,
Pude então há bem pouco tempo
Por os olhos no poeta admirado,
Tu, que tens o dom que não posso ter
Que com a certeza do que é sem duvidar
Não precisa de orgulho para aparecer
Fez mais que meu respeito conquistar...
Na minha memória teu nome, talento e valor
Na legenda das melhores cenas da minha vida
Tens o título perene de autor...


A cancha do amor é longa demais
Muitos passam queimando armadas
deixando pegadas, pra não voltar mais....

A corda comprida se agarra no chão
Não se prende o que não é seu
Bandeira do canto já disse que não
Poeira esconde o peão que perdeu.

O trote que vinha ganhando distâncias
Virado esperanças de certo vencer
Se amansa doído, partido por ânsias
Rodeio da vida, não tem reinscrever...

A voz que guia, agora anuncia
Que pena, seu moço, o tempo passou
Quem sabe outra pista, outro dia
Quem sabe o cavalo cansou!

Mãos que falharam no boleio do laço
Tapeiam o chapéu, e escondem segredo
Misturam esperança e cansaço
Sofrenam paixões, pealadas por medo.

Os gestos contidos perderam a hora
O temor prendeu a corda no arreio
Liberdade que amou já se foi embora
Teu laço, teu peito, partidos ao meio.


"Não se apagam com decretos

Heranças de todos nós...

Não vou matar meus avós

Pra ficar de bem c'os netos!"

(Jayme Caetano Braun)

Solidão de cantador

Destino é trança de couro
De finos tentos, aprendi
Minha música é tesouro
Feito prisão que escolhi

Pra que nasceste guri?
Por que anseias viver?
Meu destino é aqui
E nem pude escolher

Eu nasci nessa estrada
Nem sempre quero andar
Mas sou caminho, mais nada
Só vivo estando a cantar

Sou pedaço de milonga
Ponteada à violão
A tristeza mais longa
Eternizada em canção

Ainda que me sinta só
Solidão vou musicar
Que eu seja cinza e pó
Se eu não puder cantar...

Flor Rainha da Fronteira


Voltando pra casa, solito
Com a saudade repontando
Rédeas frouxas, despacito
De uma prenda me lembrando

Desencilhando no galpão
Por vezes mirava a estrada
Como eu queria violão
Um presente de chegada

Meu coração de campeiro
Se encantou em poesia
Pelo prosear feiticeiro
Das cartas de uma guria

Floreada de primavera
Cada linha bem escrita
Certo que tanta espera
Merece uma visita

Anoiteço só mateando
E ainda olho a porteira
Assovio, te esperando
Flor, rainha da fronteira.



************
Pedido de um amigo...

O Guri que eu não fui...

Na noite mais escura
Que o inverno já passou
Fechei meus olhos à procura
Da lembrança que ficou

Dos olhos de um pequeno
Que nunca pode brincar
De um guri já feito homem
Sem direito de sonhar

Da voz presa na garganta
Pranto querendo rolar
É sentença, não pergunta:
- Muito grande pra chorar...

Eu não guardo uma saudade
Da infância que não tive
O guri que eu não fui
No meu filho hoje vive...

Não são róseos, nem de amor
Versos que de mim eu faço
São rubros qual sangue e dor
Meio curvos por cansaço.

E assim minha vida passa
Muitas noites vou cismando
O que p’ra uns nasce de graça
Para outros, só plantando...

A um Gaucho Guitarrero

O campo de ontem parece voltar
Na voz de guri que faz recordar
Tantas partes de um passado
Que renasce num cantar...

O matear do dia inteiro
É quase tudo que quis
O coração prisioneiro
Num certo Porto feliz...

E cantas versos por prece
Num hino pelo teu chão
Tua tristeza adormece
No colo de um violão

Espírito de campeiro
Numa guitarra povoeira
Traz o Rio Grande inteiro
Solado à tua maneira

Nenhum dinheiro é paga
Pra o que fizer por amor
Quanto mais custosa pena
Mais o prêmio tem valor

Não há tragédia em perder
Se for tempo de espera
É preciso longo inverno
Pra cevar a primavera

Divide bem os tesouros
Da tua alma inquieta
Vale mais do que ouro
Ou que letras de poeta

Afina as cordas do destino
Por onde andares, parceiro,
Seja qual for o caminho,
Irmão gaucho e guitarrero!



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A um amigo querido, de grande coração e talento gigante... El Gaucho Guitarrero... gracias por todo!

Razões de simplicidade

Pura estampa, mais sentido

É beleza sem vaidade

Que eu quero ter comigo


Coração vibra, não bate

Guiado a mãos de ternura

Tocado de arco saudade

Sonha, ri e te procura


Nas sombras, guardada

Trazes a alma escondida

Velada por quatro cordas

Que choram quando feridas...


Se os olhos vêem nada

E a boca já não canta

A paixão vem musicada

Num carinho que encanta...


Num hino de nostalgia

Reencontro meu destino

És a vida em melodia,

Meu feitiço, violino!



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...melodias são sinais, apelos da alma... encontro do divino e do humano...se a alma quisesse desprender-se... e o fizesse numa cor...quem sabe seria verde mate, azul céu riograndense...se fosse bicho... potro sem dono, pássaro sem limites... fosse melodia... ah, almas sensíveis desprendem-se em melodias... e algumas são tão mais belas... almas que fogem por entre as cordas de um violino...





Ter amor e não chorar
Não é verso, é ilusão!
É como sorrir ao cantar
As penas do coração...

Versejar tristezas, verdade
É coisa que não me canso
É atravessar um rio a nado
Na procura de um remanso...









É mais triste o anoitecer nesse rancho
Quando soluça a dor de um final
O frio faz-me encolher-me no poncho
Aguardando que se cumpra o ritual...
A luz do lampião mais me assombra
E mais me assusta que alumia
Faz até o galo campeiro
Anunciar antecipado o dia...
Por fim me despeço do parceiro
Que tanto bem e amor me trazia
Enquanto segue a peonada a cavalo
Pressinto...a carreta não vai vazia...
Enquanto o vento geme nas estradas
Vai comigo, mais meu amado que parte
Um cortejo de almas penadas
Que revivem outra vez a má sorte
Suas próprias dores, lembranças e vidas
De heróis condecorados com a medalha da morte..


Numa rua quieta da cidade
O piazito boleava um laço
Num alarido de felicidade
Lançava armadas ao espaço

Chamava o cusco imaginação
Atiçando o bicho contra a boiada
Ora zangado invocava um peão
"Cuida, cuida, se perde a estrada!"

Nesta cena de puxar lembranças
Esqueci da vida admirando
A inocência daquela criança
Pela cidade o campo recriando...

Pensei triste no guri Rio Grande
no que será o futuro desta gente
se lhes tosam toda a liberdade
Só de brinquedo se fazem ginetes.

De sonhos de sonos antigos
Vivem os guris dos dias de hoje
As lidas urbanas só trazem perigo
A poesia do campo se perde longe...

Bois de osso ficaram pra história
Hoje somente jogos digitais
Mas estão vivos na memória
De quem, criança, foi feliz demais!

Amor de Sonho



Quero ter apenas um pedaço
Desse teu riso que faz sonhar
Na tua vida não tenho espaço
Amargo mate vem me consolar...

Eu te procuro sempre e tanto
Fundo de campo, beira do Irapuá
Se não encontro, então garanto
Tu és passado que não voltará...

As lembranças tem todo encanto
Que esse querer vem desde piá
Marca profunda que nem o pranto
Que corre manso apagará..

Quando te perdi, amor de sonho
Perdi as rédeas da felicidade
Hoje apenas meu olhar tristonho
Chora meus versos tintos de saudade...


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Fosse infinito este outubro cinza, macio, molhado de vinho tinto!
Pra de novo afogar nos teus beijos as saudades urgentes que sinto!
...na madrugada que não clareou
espelho cinza, feito lago sombrio
fugi do mundo triste que restou
numa ânsia de corrente de rio...

o tempo gasto não foi em vão
tantas horas que passei na estrada
foram pra resgatar o meu coração
que estava perdido nesta Encruzilhada...

De quanto vale a IDENTIDADE


Aprendi, desde piá
Sozinho, de olhar a lida
Vendo meu pai trabalhar
Trançando tentos pra ganhar a vida

Cada peça trabalhada
Tem um pedaço da alma
Do guasqueiro que entende
Perfeito é filho da calma

Quanto valem essas tranças?
Arte guasca feita tesouro
Pra mim são porta-lembranças
Duradouras feito couro.

Entre os valores que guardo
Respeito o que veio primeiro
E só é do meu agrado
O que chamo de verdadeiro.

Hoje assovio a mesma canção
Do jeito que o velho fazia
Mudando os tentos de mão
Com o capricho que ele tinha

Que o tempo não transforme
Meus conceitos de verdade
Não plastifiquem a arte
Não é produto, é identidade.

__________________________

Ao amigo Alexandre Rosa, com respeito e admiração.

Pilchas de Dentro


Perguntou-me um guri
Se me considero campeiro
que sequer uso bombachas
Na lida de guitarreiro

Se o campo que canto existe
Se é mais imaginação
Se guitarrear foi destino
Ou se tenho vocação

Não me julgues, não me conheces
E a pretexto de tradição
De que é que tu te vestes?
Pilchas tenho no coração!

Não foi em livros que aprendi
Nem de vitrine é minha estampa
Gaúcho é mais que nascer aqui
É alma pilchada, amor na garganta.

Canto que é vida em legenda
Imita passado sem pretender ser igual
Essência que talvez não compreendas
Que nunca foi matéria de manual

Respeito ao sul não tem receita,
É liberdade de movimentos
São pilchas de dentro que não se inventa
Gaúcho não tem regras, tem sentimentos.


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Dedicado ao amigo que valorizo muito, pessoa do maior fundamento, querido Jader Leal.



Já é tão tarde...Por que estou acordada?
Se nada importante está acontecendo,
E se estou assim, tão cansada?
Ah, os porquês desta minha vida...
As mil perguntas que não tem resposta
Os tantos becos que não tem saída...
Tantas caixas de sonhos guardadas
Tantas por encher ainda...
E versos, rimas e palavras desperdiçadas
Risos que começam de um pranto que finda
E lágrimas que molham o som do meu riso...
Já é tão tarde...Por que estou acordada?
Se o mundo não precisa de mim
Se o mundo não quer nem saber
Dos meus becos, meus porquês de estar assim...
Se o mundo não quer saber nada
Se estou dormindo, acordada, enfim...
Do que mesmo estou cansada?
Da mesmice de anos, meses e dias inteiros?
Não consigo dormir, e ninguém sabe
Que meus olhos estão abertos no escuro
Invento histórias e conto cordeiros...
Retorno o filme da minha vida
E vejo na névoa uns pontos claros
Será a morte? Não, ainda não é
Já é tarde demais para lembrar que não tenho fé
Se não é a morte...então vou dormir...
Me entrego como um gato no colo do dono

Descanso da vida é a morte, como do dia é o sono...
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MOTIVOS DE MATE
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Ergui bem alto meus olhos pra o céu
Senti bem longe os sonhos de retorno
Lavando a erva a versos no papel
Coração avesso que perdeu o entono.
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Sei que destôo das cenas urbanas
Não me perdôo pelo que me fiz
Restando agora a um campeiro só as penas
Lembranças vagas de quem já foi feliz.
.
Com as janelas de casa cerradas
Me entrego a um mate que me faz sonhar
Se ainda mateio pelas madrugadas
É por anseios de me reencontrar...
.
Se ainda sorvo esse meu mate santo
É porque ele acalma a dor sentida
Mate é alma que inspira o meu canto
Amargo verde que me adoça a vida.
.
Quisera eu nunca ter partido
Pra casa grande aqui na cidade
Sem identidade, sem nenhum sentido
Raiz sem terra, seca por saudade...


No escuro,no sono, no sonho
São olhos, são lábios sedentos
E toques, desejo tamanho
Que não importam sentimentos
Primitivos, arcaicos, antigos demais
Tão velhos rituais, tão perfeitos
Ondas gigantes, ventos furiosos
Se erguem e sopram na mesma cadência
Provocam, instigam, se descobrem curiosos
Instintos apenas, sem ter consciência
Se encontram, ao tato se queimam
Em cinzas o mundo se desfaz
E ardem florestas, céus e terra se terminam
E ressurgem, recomeçam na busca de mais
Até que por fim se entregam
E caem nos braços de Morfeu e da paz
Se acalmam os ventos e ondas do mar
Aos raios do sol só vão descansar
Até que no escuro, no sono, no sonho
Mais uma vez irão se amar.

Pecado!

Pecado, saudade querida
É desperdiçar um querer
Saber que a luta é perdida
E ainda lutar por perder...

Pecado é esse meu amor
Deitado na beira da estrada
Contando estrelas de dor
Com muito tempo e mais nada...

Pecado é todo esse desejo
De ter o que não é pra mim
Lembranças de um certo beijo
Errado destino, tristeza no fim...

REPONTANDO SAUDADES




Camilla Zago


A voz campeira que ecoa sonora

Em bom espanhol, num timbre tristonho

Transforma minutos em tempo de horas

Lua, lagoa, num cenário de sonho.


Num galpão de festa, coração já cansado

Repassa momentos que não soube esquecer

Se só se magoa lembrando o passado

Decide: é momento de voltar a viver...


Me abrigo no poncho de um olhar moreno

Que me trouxe carinhos, sossego e verdades

Secando minhas lágrimas como o sol ao sereno

Vivo nele pra sempre...repontando saudades


Todas as paisagens se confundem, refletidas

Nos olhos de noite que o destino marcou

Pra ser o porto de esperanças perdidas

De um amor tão antigo que só o tempo lembrou.


Só o eco se ouve de velho sentimento distante

Quando acaso e destino em canções de festival

Tocam o coração em acordes de amor em reponte

Fazendo letra perfeita pra melodia sem igual.
***




Que essa garoa fina que cai devagar


Apague as pegadas do nosso passado


Que juntos o sol possa nos encontrar


Para qualquer cinza ser iluminado...




O inverno que chega de mansinho


Só fará com que fiquemos perto


Não há limites quando há carinho


Estar contigo, meu desejo certo...




Como queria meus olhos nos teus refletidos


Noite dessas que o céu em águas se desfaz


Parasse o tempo em temporal de sentidos


Nos mesmos braços que trarão minha paz...




Clarões espiam, são olhos da tempestade


Queria que ela não pudesse me ver assim


Sinto-me só em companhia desta saudade


Desta vontade egoísta de te ter só pra mim...




Todas as forças que a natureza faz uso


Fascinam-me nesta longa madrugada insone


É à chuva que confesso que tudo que preciso


É de ti, do som da tua voz chamando meu nome...









Em meio às sombras, despertei
Sufocada, em desespero, sem ar!
Por instinto a janela descerrei
O vento frio me fez respirar ...
Descansei meus olhos na beleza da lua
Que afagou meus cabelos e sorriu
Repetiu-me uma poesia tua
E atrás de uma nuvem dormiu.


Fiquei só, no frio e no escuro
Até que compreendi o que não entendia
Aquele poema...é meu futuro
Despertou-me enquanto eu dormia
É a fórmula mágica que procuro...
Que eu já tinha e não sabia
Já não estou só, no frio e no escuro
Estou com a tua lembrança por companhia
Com um terno amor para me aquecer
E com a luz de meu próprio sorriso
Porque sou tudo que queria ser
O vento fechou de novo a janela
E ao som do teu riso me fez adormecer.