A quem Reponta Estradas...

Homem que vive dos próprios caminhos
De antes, depois, por si e mais nada
Suas cargas pesadas carrega sozinho
Tropeiro sem bois, a repontar estradas

Só a força de muitos cavalos
Pode fazer seu mundo girar
Sem rodeios, campeiro, nem pealos
Esporeia motores pra acelerar...

Traz os olhos transbordando horizontes
E no peito calmo poeira de solidão
Vem fazendo o que seu pai fazia antes
Repontando estradas, dirigindo um caminhão...

Quem não tem parceiros pra lida
Conta segredos silentes à Deus
Ceva saudades por toda sua vida
Só tem partidas e a falta dos seus.

É gaúcho sim senhor, mesma maneira
De vencer uma guerra todo dia
Rotina pesa mais do que a madeira
Ainda assim, é a sina que queria...

Quem sabe mude ainda esse seu mundo
E traga junto a si no caminhão
A morena que o ama mais que tudo
E que há tempos lhe habita o coração...

Descompassos...

Numa conversa de pé de ouvido
Com o santo padre lá de cima
Contei o que tenho sentido
Em versos duros sem rima...
.
Porque será que planto flores
Nas pedras desta minha vida
São lanças os meus amores
E causam tantas feridas !
.
Porque não basta ao coração
O que sempre disse querer
Se pudesse tirar com a mão
O que descompassa o bater...
.
Pergunto, em reza, baixinho
O que fiz pra merecer?!
Uma estrada ... dois caminhos
Um amor e um bem querer...
.
Coração descompassado
Toda razão já perdeu
Por quem buscas, se és amado?
Tens um lugar todo teu...
.
Sem respostas, sem compasso
Linhas tortas, vida incerta
Pai do céu, o que eu faço
Se me encantou o poeta...


Pra um gaiteiro...



Chegou com força de temporal
Na madrugada mais comum
E eu soube, nada seria igual
Esqueceria de jeito nenhum...


Teu riso claro atrasou o dia...
No campo verde do teu olhar
Plantei sonhos que eu queria
Colher na hora de te ver voltar...


Trazes na alma de campeiro
A poesia destas primaveras
Nas mãos magias de gaiteiro
Melodia pra minhas esperas...


Somente a lua que espiava
O reencontro de emoções
Sabia o quanto eu sonhava
Ser a letra das tuas canções...


Um último acorde aconteceu
Com a manhã pra ser saudade
Quando o dia amanheceu
E eu voltei pra minha cidade...


Se a distância emudece o peito
Canto sempre a recordação
Do beijo doce e do teu jeito
Gaiteiro dono do meu coração.

23/11/2008
..hace tiempo!


...um ano depois da data dos versos é que os posto... que sejam homenagem ao homem que traz a alma na ponta dos dedos, que derrama os sentimentos lindos que tem no coração em melodias encharcadas de emoção... pelo dia 22 de novembro, dia do músico... pelos tantos dias que nos conhecemos e que me brindastes com tua amizade,   com o colo carinhoso das tuas palavras...

Gracias T.A. ... te dedico!

"TRACEI UM DESTINO..PRA SEGUIR CERTO! RASGUEI OS MAPAS...REDESENHEI O CAMINHO...MAS ME PERDI NUM LARGO, DISTANTE DESERTO...É OFENSA A UM AMOR OFERECER CARINHO"...

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Mercedes Sosa.... ouvi há pouco... "Todo Cambia"...

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
Pero no cambia mi amor
Por mas lejos que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente...

La Negra... a melhor... fará falta!

Proseando com o Irapuá...

“O Irapuá se recolhe devagar ao descanso, tardezinha
E nem o ventito que reponta a noite me leva à casa
Pé na porteira, olhos no céu, uma saudade só minha...
Se chega mais escura que a noite, mais fria que o vento.
A palavra já não voa fácil, pássaro que quebrou a asa...
Mas conto pra o campo largo e quieto que me viu nascer
Que ouve há vinte e mais anos essa alma silenciosa
Meu coração é como a lua e só um lado é triste e vazio
O outro é adoração a quem lhe acelera a mil o bater
Doce e arisco, pimenta, canela, calma, mistério e desafio”...

*O Tradicional “’tá tarde” de meu pai corta meus pensamentos
A frase que ouço desde criança como toque de recolher
Me faz sorrir devagar, mesmo sentindo nos olhos
as estrelas que as sombras revelam, tentando as prender ...
As lágrimas borram o brilho, e por meu rosto em descida
Vão fios de luz, saudade que de um peito cheio transbordou
Desfaz o riso, antes que chegue à boca a estrela desmanchada...
O toque de recolher se repete, menos rígido do que pode parecer
Pego o rumo de casa, o cuidado de deixar a cancela encostada
Com a certeza de que o tempo não deixaria tudo morrer
Amor não se termina, se transforma como campo que anoitece
Sabe que o sol não o encontrará tal e qual o deixou ao se pôr
Há morte na noite, brota sentimento em campo de coração sozinho...
Todos os dias nascem pra ser de saudades e de recomeço
Se o que se foi me fazia triste, meu presente é carinho
Meu sorriso é boa noite ao melhor conselheiro que conheço
Irapuá campo lindo adormecido, obrigada por me ouvir, sussurrei
E ao céu que assistia: Gracias meu Deus, me acompanhas também
Perdi tanto! Mas é incomparável o valor do tesouro que encontrei!


* Sei que vou dormir logo, como nunca na cidade...
pensamentos sem nenhum permisso se vem
Cismo, quem pode saber da minha verdade?
Que sabem todos, de campo, que não sei também?
faz parte das teorias de teclado sobre Identidade
E doutorzinho nenhum saberá estudando o que é que tem
Nessa noite misteriosa, que entoa canções sem idade
Tão densa que alimenta, tão lenta que sinto o mundo girar
Adormeço no leito do Irapuá, é campo e rio sem vaidade
Velam meu sono como irmãos...e protegem os meus segredos...

MOTIVOS DE MATE

Ergui bem alto meus olhos pra o céu
Senti bem longe os sonhos de retorno
Lavando a erva a versos no papel
Coração avesso que perdeu o entono.

Com as janelas de casa cerradas
Me entrego a um mate que me faz sonhar
Se ainda mateio pelas madrugadas
É por anseios de me reencontrar.

Se ainda sorvo esse meu mate santo
É porque ele acalma a dor sentida
Mate é alma que inspira o meu canto
Amargo verde que me adoça a vida.

Quisera eu nunca ter partido
Pra casa grande aqui na cidade
Sem identidade, sem nenhum sentido
Raiz sem terra, seca por saudade...

Devaneios de um fim de tarde...

...quando anoitece, especialmente quando está friozinho e o sol vai embora quase chorando, sinto uma tristezinha aguda. E sendo a hora tradicional do meu mate, deixo que os pensamentos soltem-se e me emocionem ainda mais que o costume...nada de lágrimas... enchente mesmo! ...hehe

...Hoje não pude deixar de lembrar de uma música do Lambari... "Na Boca da Noite Grande" ... meus fantasmas vieram... arrastando chilenas...

E quando o pensamentou assentou-se...me fez sorrir. Parou nele...
...Ele é uma lembrança doce, um presente excitante, um futuro vago... medo! E gratidão... intenso o suficiente pra me abalar, certo que não tenho raízes, mas meus braços estão firmes, balançaram, mas estão firmes... Incerto o suficiente para me fazer puxar as rédeas e reduzir o galope do meu coração romântico...

Quem não se perde ...não viaja às vezes... não sabe nunca o valor da casa...e de voltar pra o que é seu... mesmo que nem tenha ido... voltar...

Só a saudade, desde piá!

...Ao meu avô materno, Matias Osório Rios...

Costumava, já velho, sentar-se em frente à minha casa, no Irapuá - interior de Caçapava do Sul, e contar histórias da guerra, permeadas de cavalos e soldados. Sempre sonhei com as panelas de ouro que os padres, segundo ele, enterraram nas taperas encantadas que eram lindeiras ao nosso campo...
Magias de meu avô... que falava sozinho às vezes, porque poucos compreendiam que era por falta de atenção na realidade que fantasiava uma vida mais heróica......meu velho, tu fostes grande!





À Don Matias

Don Matias, homem velho
Olhos ternos, mas perdidos
Que bebiam horizontes
Sem nunca temer perigos

Foram poucos seus amigos
Que ao fim lhe acompanharam
Este homem dos antigos
De tempos que se findaram

Morreu em qualquer outono
Sem glórias que esperou
Nem destino foi seu dono
Por inteiro não o levou

Ficou um cavalo mouro
E as histórias que contou
De soldados, de tesouros
E de coisas que inventou

Também todos os relatos
Que nas tardes relembrou
Homem que sabia os fatos
Que a história não guardou

Em tudo que hoje faço
Te recordo, meu avô
Despediu-se num abraço
Por herança o que ensinou

Meu velho, tu fostes grande
Vivendo à tua maneira
Por onde quer que eu ande
Te dedico a vida inteira.

Só a saudade desde piá
Sempre volta, todo dia
Sei que tu só voltarás
Em lembrança e nostalgia.

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Ensina-me, Poeta...

..Este estava perdido... encontrei nos meus arquivos... Escrevi em 2006... ou 7.... nem lembro!




Meu coração nessa caixa de concreto
Sente falta de beber do Irapuá
De descansar na sombra do cinamomo
De reviver um dia que não vai voltar
Como tu podes, poeta, poeta querido
Fazer-se livre, bater asas desse jeito
Se também vives no mesmo meu mundo
Me ensina a arte de criar flores do cimento
Fazer poesias da dor, fazer do fútil profundo
Me ensina, meu poeta, enquanto há tempo
Porque estou a me sentir sem raízes
Canto teus versos para as paredes
Que eles me trazem um cheiro de campo
Um gosto de pitanga,de infância e cambuí
Que teus versos trazem minha terra pra mim
Flores, árvores, uma boiada inteira
Ao branco das paredes põe fim
Viajo, tendo a lembrança por companhia
Enquanto tu existires no Rio Grande, poeta
Será suportável viver na cidade
Porque tu és a voz da minha alma quieta
Para meu pranto é a consolação
Que me faz sorrir, sozinha em meu quarto
Como se em vez de ruídos urbanos e solidão
Estivesse cercada de céu, de amor e de mato...

...

Queee final de semana!
Finalzito da espera pelas Encantadas... e que tenho?
Um segredo...um silêncio... e um tanto de sonhos novos, que rendam versos!

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Quanta emoção senti nos teus versos
Que repito para mim mesma mil vezes encantada
Como se fossem da minha vida pedaços
Como se fosse minha alma musicada
Com a letra de quem eu não conhecia sequer
Que não sabia que tão perto já tinha estado,
Pude então há bem pouco tempo
Por os olhos no poeta admirado,
Tu, que tens o dom que não posso ter
Que com a certeza do que é sem duvidar
Não precisa de orgulho para aparecer
Fez mais que meu respeito conquistar...
Na minha memória teu nome, talento e valor
Na legenda das melhores cenas da minha vida
Tens o título perene de autor...


A cancha do amor é longa demais
Muitos passam queimando armadas
deixando pegadas, pra não voltar mais....

A corda comprida se agarra no chão
Não se prende o que não é seu
Bandeira do canto já disse que não
Poeira esconde o peão que perdeu.

O trote que vinha ganhando distâncias
Virado esperanças de certo vencer
Se amansa doído, partido por ânsias
Rodeio da vida, não tem reinscrever...

A voz que guia, agora anuncia
Que pena, seu moço, o tempo passou
Quem sabe outra pista, outro dia
Quem sabe o cavalo cansou!

Mãos que falharam no boleio do laço
Tapeiam o chapéu, e escondem segredo
Misturam esperança e cansaço
Sofrenam paixões, pealadas por medo.

Os gestos contidos perderam a hora
O temor prendeu a corda no arreio
Liberdade que amou já se foi embora
Teu laço, teu peito, partidos ao meio.


"Não se apagam com decretos

Heranças de todos nós...

Não vou matar meus avós

Pra ficar de bem c'os netos!"

(Jayme Caetano Braun)

Solidão de cantador

Destino é trança de couro
De finos tentos, aprendi
Minha música é tesouro
Feito prisão que escolhi

Pra que nasceste guri?
Por que anseias viver?
Meu destino é aqui
E nem pude escolher

Eu nasci nessa estrada
Nem sempre quero andar
Mas sou caminho, mais nada
Só vivo estando a cantar

Sou pedaço de milonga
Ponteada à violão
A tristeza mais longa
Eternizada em canção

Ainda que me sinta só
Solidão vou musicar
Que eu seja cinza e pó
Se eu não puder cantar...

Flor Rainha da Fronteira


Voltando pra casa, solito
Com a saudade repontando
Rédeas frouxas, despacito
De uma prenda me lembrando

Desencilhando no galpão
Por vezes mirava a estrada
Como eu queria violão
Um presente de chegada

Meu coração de campeiro
Se encantou em poesia
Pelo prosear feiticeiro
Das cartas de uma guria

Floreada de primavera
Cada linha bem escrita
Certo que tanta espera
Merece uma visita

Anoiteço só mateando
E ainda olho a porteira
Assovio, te esperando
Flor, rainha da fronteira.



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Pedido de um amigo...